Esta sequência foi criada no encontro presencial do curso Melhor Gestão Melhor Ensino por Roseli Magro:
ØPúblico
Alvo: Alunos do 9º ano
ØTempo
previsto: 3 a
4 aulas
ØConteúdos
e temas: leitura de texto do
gênero Conto; levantamento das características estruturais do gênero, exposição
oral sobre as produções dos textos na tipologia dissertativo-argumentativo.
ØCompetências
e habilidades: conhecer
e saber utilizar adequadamente o gênero conto; fazer uso das informações
coletadas no texto, a fim de defender um ponto de vista, conhecer a estrutura
do texto dissertativo-argumentativo; localizar informações implícitas e
explícitas no texto.
ØEstratégias: aula interativa,
trabalhos em grupos e rodas de leitura.
ØRecursos: livro didático,
dicionário de Língua Portuguesa e internet.
ØAvaliação: Processual (durante
as aulas) e produção de texto escrito.
Fazer uma prévia antes da leitura;
Leitura do texto pelo educador;
Leitura silenciosa do texto pelo aluno.
Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para o
banheiro, fez a barba e lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem ruído. Estava na cozinha,
preparando sanduíches, quando a mulher apareceu, bocejando:
- Vais sair de novo, Samuel?
Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva, mas as
sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém-feita, deixava ainda no rosto uma
sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.
- Todos os domingos tu sais cedo – observou a mulher com azedume na voz.
- Temos muito trabalho no escritório – disse o marido, secamente.
- Por que não vens almoçar?
- Já te disse: muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche.
A mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse à carga, Samuel
As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da garagem.
Guiava vagarosamente: ao longo do cais, olhando os guindastes, as barcaças atracadas.
Estacionou o carro numa travessa quieta. Com o pacote de sanduíches debaixo do braço,
caminhou apressadamente duas quadras. Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo.
Olhou para os lados e entrou furtivamente. Bateu com as chaves do carro no balcão,
acordando um homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente.
Esfregando os olhos, pôs-se de pé:
- Ah! Seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho bom este, não é? A gente...
- Estou com pressa, seu Raul! – atalhou Samuel.
- Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre. – Estendeu a chave.
Samuel subiu quatro lanços de uma escada vacilante. Ao chegar ao último andar,
duas mulheres gordas, de chambre floreado, olharam-no com curiosidade:
- Aqui, meu bem! – uma gritou, e riu: um cacarejo curto.
Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta à chave. Era um aposento
pequeno: uma cama de casal, um guarda-roupa de pinho; a um canto, uma bacia cheia
d’água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas, tirou do bolso um
despertador de viagem, deu corda e colocou-o na mesinha de cabeceira. Puxou a colcha e
examinou os lençóis com cenho franzido; com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos,
afrouxou a gravata. Sentado na cama, comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou os
dedos no papel de embrulho, deitou-se e fechou os olhos.
Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a mover-se: os automóveis
buzinando,os jornaleiros gritando, os sons longínquos.
Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculo luminoso no chão
Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa, perseguido por um
índio montando a cavalo. No quarto abafado ressoava o galope.No planalto da testa, nas
colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel mexia-se e resmungava. Às duas
e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas. Sentou-se na cama, os olhos
esbugalhados: o índio acabava de trespassá-lo com a lança. Esvaindo-se em sangue,
molhado de suor, Samuel tombou lentamente; ouviu o apito soturno de um vapor. Depois,
Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a
bacia, lavou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu.
Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
- Já – disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco em silêncio.
- Até domingo que vem, seu Isidoro – disse o gerente.
- Não sei se virei – respondeu Samuel olhando pela porta; a noite caía.
- O senhor diz isto, mas volta sempre –observou o homem, rindo.
Ao longo do cais, guiava lentamente. Parou, um instante, ficou olhando os
guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para casa.
[De O Carnaval dos Animais. Porto Alegre, Ed.Movimento, 1969]
Identificação do gênero:
- características do
texto;
- veículo de
comunicação;
- autor;
- linguagem utilizada;
- tipo de texto
(narrativo, descritivo, dissertativo).
Dividir a sala em grupos heterogêneos:
- Cada grupo discutirá o
texto abordado em sala.
-
Produção escrita: texto dissertativo-argumentativo sobre a visão do
aluno em relação ao perfil do personagem principal
Após a produção coletiva, cada grupo apresentará o seu texto de forma
interativa.
Pesquisar uma letra de música que condiz com a argumentação apresentada
por cada grupo.
Bibliografia
SCLIAR, Moacyr. “Pausa”. In BOSI. Alfredo (org.) O
conto Brasileiro Contemporâneo. São Paulo: Cultrix, s/d. p 275-277.
Leitura
Complementar: O imaginário cotidiano. Moacyr Scliar. São Paulo: Global
ØAutores:
Roseli Magro
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